terça-feira, julho 12, 2011

Ensaio sobre a cegueira

Ensaio sobre a cegueira – José Saramago


       Num determinado dia, onde tudo parecia normal, um jovem é acometido por uma cegueira, diferente de tudo que já foi diagnosticado pela medicina, é uma cegueira branca, inicia-se assim o surto. Nesse momento, entra a genialidade do escritor ao dissecar do que é feito a humanidade, ou seja, precisa de uma cegueira para enxergar o que somos.
       Um dos melhores livros que já li, cheio de enigmas, por exemplo, como um ateu, descreve a passagem dentro da igreja onde os santos estão vendados, é um enigma até para os personagens da história. A mulher que morre, com a chave do apartamento dos pais da prostituta na mão. Por que só uma pessoa enxergava? Um castigo ou uma vantagem. Por que o velho caolho não ficou feliz quando todos voltaram a enxergar.

       Não sou um especialista no tema, a cegueira, mas o próprio Fernando Meirelles usou o quadro do Renascentista Flamengo, Os Cegos de Pieter Brueghel, em analogia, no seu filme, que confirma que o tema atrai investigações pelo menos há uns quinhetos anos. Nas palavras do próprio escritor. “Só num mundo de cegos que as coisas serão o que verdadeiramente são”.

       Abaixo, listo alguns dos aforismos que aparecem no livro:

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”

“A responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”.

“Se podes olhar vê. Se podes ver repara”

“É desta massa que somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade.”

“Quando estamos mal e respondemos que está tudo bem isso é fazer das tripas coração.”

Há muitas maneiras de tornar-se animal, pensou, esta é só a primeira delas. A mulher que enxerga se referindo à sujeira dos alojamentos. Quando o marido foi à latrina e não encontrou onde se limpar e subiu as calças sujo.

“Todos nós temos nossos momentos de fraqueza, ainda o que nos vale é sermos capazes de chorar, o choro muitas vezes é uma salvação.

O general que ordenou matar todos os cegos, ao ficar cego deu um tiro na própria cabeça, o exercito sempre pronto a dar bons exemplos.

“Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoa, ao menos façamos tudo para não viver inteiramente como animais.”

“Ainda que, na verdade, há um relógio, tanto lhe faz, vai da uma as doze, o mais são idéias dos humanos”

“Não há bem que sempre dure, nem mal que ature”

“Mas assim está o mundo feito, quem tem a verdade muitas vezes disfarça-se de mentira para chegar aos seus fins.”

“Uma fila grotesca de fêmeas mal cheirosas, com roupas imundas e andrajosas, parece impossível que a força animal do sexo seja assim tão poderosa, ao ponto de cegar o olfato, que é o mais delicado dos sentidos, não faltam mesmo teólogos que afirmam, embora por estas exatas palavras, que a maior dificuldade para chegar a viver razoavelmente no inferno é o cheiro que lá há.”

“Perguntar de que alguém morreu é estúpido, com o tempo se esquece a causa, só uma palavra fica, morreu.”

“A cegueira também é isso viver num mundo onde se tenha acabado a esperança.”

“A natureza animal é mesmo assim, também a vegetal se comportaria da mesma maneira se não fosse todas aquelas raízes a prendê-la ao chão.”

“Ser fantasma deve ser isto, ter certeza que a vida existe, porque os quatro sentidos o dizem, e não a poder ver.”

“Se a vitima não tiver direito sobre o carrasco, então não haverá justiça.”

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.”

“É o que acontece a todos nós, sempre fomos mais alguma vez.”

“O difícil não é viver com as pessoas, o difícil é compreendê-las.”

“O puxador da porta é a mão estendida de uma casa.”

“Os olhos é o fio que une a humanidade. O silencio ainda é o maior.”

“Um dia quando compreendemos que nada de bom ou de útil podemos fazer pelo mundo, deveríamos ter a coragem de simplesmente sair da vida.”

Um comentário:

  1. li agora... depois que eu ler o livro, vou voltar para ler de novo! As frases são mto boas, José Saramago é genial (:

    ResponderExcluir