“Nos tempos incertos de indecisão ou transição aparece sempre e em toda parte uma gentinha vária [...] Em qualquer período de transição ergue-se essa canalha existente em qualquer sociedade e, já se ergue não só sem nenhum objetivo como até mesmo sem nenhum esboço de pensamento, apenas usando de todos os meios para ser a expressão da intranqüilidade e da intolerância.”
Fiodor Dostoiévski – Os Demônios
É com esse fragmento de Dostoiévski, que gostaria de comentar a entrevista do sociólogo polonês, radicado na Inglaterra, Zygmunt Bauman.
Essa frase elucida o Interregno. No princípio a palavra foi utilizada para significar o intervalo entre dois monarcas. O termo foi utilizado pela primeira vez pelo historiador romano Plutarco, sobre a morte de Rômulo, e a lacuna ideológica e política que se seguiu, como não havia nada organizado antes de Rômulo ninguém sabia o que viria depois.
É sobre nossa era, pós-moderna e seu interregno, que Zygmunt Bauman estuda em seus livros, muitos deles publicados no Brasil.
O que percebemos hoje são movimentos sem articulações políticas, explosões radicais da sociedade de consumo. Essa sociedade é fluida, na medida em que, sua identidade se apóia no consumo que não é permanente resultando em violência e perigo.
Na transição da sociedade de produção para a sociedade de consumo, pela primeira vez, vemos que filhos não terão a mesma empregabilidade do pai e muito menos vão superá-los na acumulação de bens.
Outra contradição, a sociedade de consumo só alcançou a liquidez, liberando crédito, porém a conseqüência disso é a recessão que atualmente atinge países do hemisfério norte.
Politicamente, ocorreu o divórcio entre poder e política, poder é a capacidade de fazer, política é a decisão do que se pode fazer.
Contudo, o mundo hoje propaga uma idéia de liberdade e democracia, como se fosse uma panacéia e, no entanto, são dramáticas as analises sociais para um mundo no futuro.
Será que como composição social, somos essa gentinha intranqüila e intolerante, ou estamos indiferentes e preocupados com a próxima viagem de férias, são elucubrações que talvez não tenham respostas, mas que incomodam.
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